Por Victor Akamine
Deixar uma longa carreira em uma multinacional renomada no Brasil não foi fácil!
Depois de quase 7 anos me dedicando a minha empresa no Brasil, tive a oportunidade de ser transferido internamente para nossa unidade no Japão: início de uma nova carreira, de uma nova cultura e de um novo desafio na minha vida.
Montei esta pequena lista abaixo com 5 coisas que logo aprendi ao começar a trabalhar no Japão:
1 – O Conhecimento tende ao infinito
Não importa o quanto você estude, o quanto você entenda sobre o comportamento das pessoas, o quanto você vivencie as mais diferentes situações no trabalho… O mundo é enorme, e o conhecimento se torna muito volátil à medida que você se distancia de seu país de origem.
A cultura e os costumes de outro país alteram muito o alicerce do conhecimento. Às vezes, o que no Brasil é um traço que todas as empresas procuram, no Japão pode ser uma característica muito negativa.
Um exemplo clássico: a famosa frase “Estou em busca de desafios!”, enquanto no Brasil enxergamos isso como algo crucial para a contratação de um bom colaborador, no Japão o olhar é um pouco diferente para esse perfil profissional. Na visão dos japoneses, aquele que sempre “busca novos desafios” pode ser um profissional que não ficará na empresa para sempre (que é o costume tradicional do profissional japonês).
Tive que redobrar minha atenção, dedicar meu tempo para, além de estudar japonês e novas tecnologias, ler diversos livros sobre comportamento, ética e etiqueta.
2 – A importância da pontualidade
Se você estiver dentro da tolerância estipulada já é um problema.
Em um país onde os trens funcionam perfeitamente, com horário de chegada e partida seguindo à risca a casa dos minutos, é inadmissível a falta de pontualidade. O comum para reuniões de negócios ou até simples encontros entre amigos é chegar ao menos 10 minutos adiantado.
Chegar em cima da hora pode passar uma má impressão e chegar atrasado, uma total falta de respeito.
O maior problema que sofri com isso foi o fim dos “5 minutinhos” de sono pela manhã. Por outro lado, poder se programar com a certeza de que todas as pessoas/lojas/empresas irão cumprir os horários estipulados é algo realmente fascinante.
Uma curiosidade: uma transportadora marcou comigo o horário de uma entrega às 14:00. No dia da entrega, me ligaram às 13:45 pedindo permissão e “onegai” (por gentileza) para realizar a entrega um pouco mais cedo pois estavam adiantados. Excelente!
3 – Hou-Ren-Sou
Houkoku = Reportar / Renraku = Informar / Soudan = Consultar
O Hourensou é um comportamento básico da cultura corporativa no Japão, aqui é exigido fortemente uma clara comunicação entre líderes e liderados. Reuniões de alinhamento são constantes: dependendo do setor, até duas reuniões são feitas diariamente para entender a evolução do projeto.
Ser claro, sucinto e objetivo é o segredo para otimizar o seu tempo e tempo do seu líder, um grande exercício de síntese!
4 – Outliers existem no mundo todo
Trabalho em uma empresa japonesa onde há diversos profissionais estrangeiros, e é incrível o número de pessoas geniais que existem no mundo. Pode soar preconceituoso, porém sabemos que muitas vezes somos direcionados a admirar os Americanos, os Ingleses, os Japoneses; Profissionais de países de primeiro mundo.
Mas me impressionei como existem pessoas geniais em todos os lugares do mundo, trabalho com indianos, chineses, tailandeses e um é mais surpreendente que o outro. Realmente são pontos fora da curva!
E diga-se de passagem, uma das figuras mais respeitadas na empresa é nada menos que um Diretor Brasileiro!
5 – O mundo acadêmico pode ter sinergia com o mundo corporativo
Por muito tempo vivenciei de perto a rixa que existe entre o mundo acadêmico e o mundo corporativo no Brasil. De um lado, os professores da universidade criticando o modo capitalista das empresas; do outro, as empresas cada vez mais se distanciando de pesquisas e inovações, e buscando principalmente o lucro desenfreado.
Posso dizer que tive sorte, porque apesar de trabalhar em uma empresa com foco no lucro, é também focada na inovação e no desenvolvimento intelectual dos colaboradores.
Porém, no Japão é quase um consenso geral de que todas as empresas e universidades devem ter um forte elo, em um cenário onde as empresas investem nas pesquisas das universidades e as universidades provêm espaço para a divulgação dessas empresas para seus alunos.
A empresa para qual trabalho no Japão inclusive estende esta participação para colégios do ensino médio, provendo seminários sobre tecnologia e auxílio para entrada no mercado de trabalho.
O beneficio é evidente quando vemos a recepção abarrotada de recém graduados procurando emprego em nossa empresa, e também quando estamos em reuniões de soluções e diversos tipos de soluções baseadas em pesquisas acadêmicas são discutidas.
No mais, estes são os pontos que aprendi rapidamente em poucos meses trabalhando no Japão. Sei que ainda tenho muito mais a aprender, e claro, compartilharei com vocês os próximos passos desta nova jornada.
Obrigado a todos
Leia mais textos do Victor Akamine.
This entry was posted in Japão