Por Márcia Smaniotto
07/13/2011
Desde que me entendo por gente, minha mãe me conta histórias da época em que trabalhava de comissária na Varig, e são sempre histórias fantásticas, que me fazem sonhar e imaginar cada detalhe, como num livro. Uma dessas histórias se passava numa ‘cidadezinha aos pés do Mont Blanc, na divisa com a Itália’.
Eis que quando me dei por conta, estava dentro de um trem com um bilhete nas mãos que apontava o meu destino: Chamonix – Mont Blanc. Minha expectativa estava fora de controle, foram quatro horas de viagem sem conseguir pregar os olhos. Só mirava o horizonte tentando encontrar as montanhas, e via a paisagem se transformando… Os campos mudando de cor, o frio aumentando, e subindo, cada vez mais alto. Escrevi no meu diário de bordo tudo o que eu tava sentindo, pra não me esquecer dessa sensação jamais. Parei em Saint Gervais pra trocar o trem por um ônibus que finalmente me levaria até lá: Chamonix.
Mas era estranho, não via as montanhas ainda. Foi uma viagem de quarenta minutos, com paisagens de tirar o fôlego e curvas estonteantes (nada mal pra quem cresceu aos pés da Serra do Rio do Rastro), casinhas alpinas típicas de filme, madeira, madeira, madeira, chaminés com fumacinha e quando olhei pra cima, achei o que e tanto procurava: Lá estava, espiando por entre as nuvens de chuva e serração. Imponente, inabalável, iluminado pelos últimos raios de sol do final de uma tarde fria: Mont Blanc. Foi como se eu escutasse novamente toda aquela história que minha mãe contava – e ainda conta, agora com uma testemunha – com todos os detalhes. Me senti pequena, mas nunca com tanto fôlego antes na minha vida. Deu vontade de voar!
Não tinham táxis, não tinha mapa, e a única coisa que eu sabia era que meu hostel se chamava Gite Le Vagabond e ficava perto de uma ponte. Pedi informação em francês, com muita dificuldade, em uma padaria charmosa (onde comprei umas guloseimas), e fui muito bem recebida e informada. E lá ia eu, feliz e contente, puxando uma mala de 30kg pelas ruas silenciosas de Chamonix… Até encontrar o Gite Le Vagabond.
Foi uma sensação tipo Harry Potter chegando em Hogsmead. Quando entrei (pelo bar, já que não tem portaria), senti aquele calor gostoso. Pessoas rindo, conversando, me cumprimentaram. Um cachorro enorme veio me receber com lambidas. Pensei: é aqui.
O hostel é o máximo. Além de ter um bar maravilhoso, com atendentes super queridas e ‘english speaker’, tem nada mais nada menos que o Mont Blanc como paisagem. Nota 10 pra esse hostel (apesar da cozinha ser nojentinha). Cama boa, calefação, chuveiro quente. Quartos limpos e perfumados. Recomendo muito!!!
Peguei minha bolsa, me agasalhei e saí pra caminhar pela cidade. Frio cortante, mas não nevava. Era primavera! Passei no mercado, comprei algo pra comer e beber e voltei pro hostel pra curtir aquele bar delícia.
Quando anoiteceu desci, já de banho tomado, pra tomar uma cerveja. Sentei sozinha, não conhecia ninguém. Logo puxaram papo comigo: primeiro a moça do bar, depois seus amigos chamoniards. E conversamos, rimos, bebemos e decidimos ir para outro bar, o Monkey, pertinho dali. Eu tava realizando um sonho! Era Chamonix sob meus pés, com pessoas fantásticas ao meu redor. E agora eu pergunto: Thom, onde está você?
O ruim de viajar sozinha é a saudade que dá quando se volta.
Veja mais posts da Márcia Smaniotto.
Veja mais posts sobre a França.
This entry was posted in Europa, França