Diário de uma mudança de vida:
Jan/2017
Em 2016 foi isso que eu propus para o meu namorado: largar um pouco o Brasil e ir para a Europa sem data para voltar. Mais precisamente para a Polônia.
Por que logo a Polônia, você me perguntaria. Bom, a minha família é polonesa, e isso facilita muito o processo burocrático e psicológico. Apesar de ter nascido no Brasil eu tenho passaporte polonês.
Eu tinha um bom emprego (falei um pouco sobre a minha trajetória no meu outro blog, sobre São Paulo), mas não estava valendo a pena. O Nando trabalha em casa, programando para empresas de fora do Brasil e pode continuar trabalhando de qualquer lugar. Eu tenho todos os documentos, tenho onde ficar, somos livres e desimpedidos… estava difícil arrumar um argumento para não ir, na verdade.
Assim, tomamos a decisão. Fizemos tudo com calma e o processo de mudança levou oito meses, mas mesmo assim os últimos meses são punk. Tem coisas que não tem como fazer com antecedência, como se desfazer de móveis e vender o carro.
Casamos, sem cerimônia, só para agilizar a papelada do Nando (um dia ainda queremos fazer a cerimônia, mas agora não tinha tempo nem dinheiro nem vontade). O processo de visto para ele foi super tranquilo, a Polônia recebe muito bem os imigrantes. Já o processo de se desfazer de coisas foi chato, tem apego emocional e ninguém quer pagar nada por móveis e roupas usados, ainda que estejam em perfeito estado. Ficamos em dúvida se deveríamos guardar coisas para um dia quem sabe voltar a usar, ao invés de vender, porque dá muita pena ter que entregar quase de graça eletrodomésticos que sabemos que ainda usaríamos por muitos anos.
Mas, como diz o ditado, cada escolha é uma renúncia. Paciência, e foco em tudo de bom que vai vir com esse desapego!
Vamos ficar nos meus primos enquanto procuramos um lugar legal para morar. O plano é fazer curso de polonês e procurar novas aventuras na linda cidade de universitária de Wroclaw.
23-4-2017
Estamos no meio do caos. Escolher mudar de país é escolher mudar de vida e deixar muito para trás.
Faz dois anos que moro com o Nando, montamos uma casa grande e a nossa decisão foi se desfazer de tudo, com pouquíssimas exceções.
Estamos vendendo e dando tudo o que temos de material. Isso exige um desapego monumental, às vezes sofrido.
Estamos estressados, irritados, surtados. Ontem já levaram a nossa cama, a nossa mesa, o sofá, e quase toda a mobília. O que sobrou está em caixas de papelão, sendo separado para ir embora logo. E ainda tem muito trabalho para fazer.
Até agora aprendi algumas coisas:
1- Tome a decisão e se jogue. Tudo vai se ajeitando.
2- Dá muito trabalho largar tudo, mas depois você esquece muito rápido das coisas materiais que ficaram para trás (dica da Lu).
3- Para vender rápido, o truque básico é ver quanto cada coisa custa no mercado livre ou olx e vender abaixo desse valor.
4- Doe. Passe o amor para a frente. Coisas usadas valem muito pouco no Brasil, às vezes a sensação de dar para quem precisa supera muito o valor que você vai conseguir ganhar vendendo.
5- Melhor usar caixas de papelão pequenas, as grandes são muito pesadas e difíceis de manipular.
5/5/2017
Hoje foi um dia épico!
A vistoria de entrega da nossa casa.
Parecia que o trabalho não ia acabar nunca, é muito mais difícil mudar de país do que apenas mudar de casa. Como a gente queria deixar o mínimo possível de coisas guardadas, foi uma novela decidir o que fazer com cada mobília, roupa ou objeto pessoal. Coisas que estavam na gaveta há anos sem ser tocadas, mas que são tão difíceis de se desfazer!
Doei sete caixas de roupas e sapatos. Duas torres quase da minha altura! Dá uma tristezinha, uma dó… mas eu sei que logo nem vou mais lembrar o que tinha nessas caixas, como a Luana me falou.
Tivemos vender uma parte da mobília, o que não vendemos precisou de frete para transportar até a casa da avó do Nando. E as coisas menores não era só enfiar em caixas e pronto, tinha que avaliar cada coisinha e decidir se vai ou se fica, se vende ou se doa, e se vende, por quanto… um trabalho infinito.
Semanas acordando cedo para separar coisas, carregar caixas, limpar, guardar e pintar paredes. Sim, porque tivemos até que raspar a tinta de uma parede, passar massa corrida e pintar de novo. Fizemos tudo sozinhos e ficou meio mais ou menos (a gente achou que ficou maravilhoso, mas olhos treinados veriam que é um trabalho amador), então nós estávamos super nervosos e ansiosos com medo da vistoria.
Hoje mesmo ficamos trabalhando na casa até 15 minutos antes do vistoriador chegar, tentando arrumar os últimos detalhes e socar as últimas coisas dentro do carro, já quase sem forças. Eu coloquei “The eye of the tiger”, da Katy Perry como tema do Nando para motivar ele no trabalho. “I wanna hear you roa-a-a-ar”.
Nem acreditamos quando o vistoriador e o proprietário elogiaram o estado da casa e nos desejaram boa viagem. Ficamos blasé até eles irem embora, depois eu fiz a minha dancinha da vitória e comemorarmos muito. Tiraram uma tonelada das minhas costas! Agora faltam apenas as últimas formalidade$$$ e estaremos livres!
31/05/2017
Nem acredito que amanhã já é o dia da viagem!
No último mês eu fui passar um tempo com a minha família em Santa Catarina e cuidar um pouco dos meus clientes de consultoria. Eu sou consultora de Marketing Digital.
Também aproveitei para cortar o cabelo. Estava bem comprido mas achei mais prático deixar no ombro por enquanto. Vida nova, cabelo novo!
Voltando para São Paulo encontrei amigos e tive a chance de dizer para as pessoas como elas foram importantes para mim nesses anos todos em São Paulo e como vão estar para sempre no meu coração. Não gosto de despedidas e não quis fazer um grande evento, afinal eu vou voltar e também quero muitas visitas por lá!
Vendi mais coisas, dei ainda mais coisas e no último dia vendemos o carro também. Ficamos na casa da avó do Nando e fizemos os últimos trâmites de banco, contas, avisos de viagem, cancelamentos, etc.
– Aproveitei para deixar uma procuração para o meu pai poder movimentar os meus bens se eu precisar.
– Não fiz o procedimento de saída definitiva do Brasil na Polícia Federal, vamos aguardar e ver como vão ser as coisas por lá primeiro.
– Tivemos o azar de as delações da JBS no Lava-Jato acontecerem bem nesse último mês, o Real desvalorizou muito. Acabamos não trocando dinheiro para levar porque:
1- Na Polônia não tem Euro, a moeda deles é o Zloty, então teria que converter duas vezes, para Euro e depois, chegando lá, para Zloty.
2 – Não dá para comprar Zloty aqui no Brasil e nem levar reais para comprar lá, dinheiro também é mercadoria e você não consegue comprar ou vender em lugares onde é difícil passar a moeda para a frente depois. Ninguém quer reais lá e nem Zloty aqui.
3 – No fim parece que vale a pena sacar direto la no caixa eletrônico. É mais seguro e mais fácil.
Agora vou dormir porque amanhã é dia de ir para o aeroporto!
01/06/2017
Chegou o grande diaaaaaaa!
no
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Nossa! em breve farei essa saída de minha cidade natal pra São Paulo…a diferença é que tenho 50 anos e quase aposentada…kkk…vamos que vamos…adorei seus relatos! como foi sua chegada na Polonia, como estão sendo seus dias de recomeço?…abração e boa sorte!!
boa tarde
estamos pensando em fazer o mesmo
pois meu marido e filhos tem cidadania polones
como foi a sua chegada na polonia
Ana, muito sucesso nessa nova jornada. Poucas pessoas sabem quanta coragem eh preciso para se tomar uma decisao dessa.
E obrigado pelas informacoes do post, realmente eh muito dificil essa saida do pais.
Boa sorte para os dois e sucesso sempre!!!
Parabens!!!
Muito obrigada, foi um período bem tenso essa saída, mas agora é só alegria. 🙂
Todo mundo deveria passar por isso ao menos uma vez na vida!